segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Audiência Pública Sobre Ed. Domiciliar no Brasil (15/10/2009)


Em 15 de outubro de 2009, em Brasília, ocorreu uma Audiência Pública para discutir o Projeto de Lei 3518/2008, que prevê a legalização do homeschooling no Brasil.
No geral, a audiência presidida pelo então deputado Wilson Picler foi bastante positiva: os palestrantes utilizaram argumentos muito consistentes, e não houve contraposição significativa aos benefícios da educação domiciliar e sua possibilidade de aplicação em nosso país.
Apesar de alguns apontamentos que demonstraram certa fragilidade do Projeto de Lei em si, Wilson Picler se comprometeu a não permitir que a discussão “morra”, criando, se necessário, propostas próprias para a regulamentação do homeschooling (o que, posteriormente, culminou no PEC 444/09).
Para Para escutar o áudio da Audiência Pública, clique nos vídeos abaixo. Para baixar o áudio completo, clique aqui.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Educação domiciliar - possibilitando uma aprendizagem natural (Segunda Parte)

A educação no Brasil apresenta sérias limitações. Porém, mesmo em uma realidade diferente na qual as instituições escolares oferecessem uma instrução formal 100% adequada e funcional, os pais deveriam ter o direito de escolher a modalidade de ensino para seus filhos.
É interessante que quando uma empresa ou produto controla com exclusividade um setor do mercado isso é chamado de monopólio, mas esse mesmo pensamento parece não ser aplicável à educação quando a situação posta apresenta a escola como única possibilidade para instruir formalmente um sujeito.
Mas deixando essa questão do direito para outra oportunidade, e voltando ao tema deste artigo...
Como já explanei no artigo "O argumento Fala Vs. Escrita", uma criança aprende a falar - processo este que poderia ser considerado um dos mais complexos a ser apreendido - com naturalidade por estar incluso em um ambiente falante. Essa familiaridade com a fala, essa imersão em um ambiente em que, naturalmente, se está falando, em que a fala surge como uma necessidade para a sobrevivência do ser, bem como para suas relações sociais e até para seu autoconhecimento, faz com que o sujeitinho se desenvolva e aprenda (ou aprenda e se desenvolva...). Nessa mesma linha de raciocínio, poderíamos deduzir que qualquer conhecimento inserido na realidade da criança, em seu dia-a-dia, será apreendido com mais rapidez e facilidade.
Neste sentido podemos perceber que a educação escolar temos um grande problema: como boa parte do que ali é ensinado não é aplicado ou mesmo visualizado no quotidiano da criança, esses conhecimentos, a princípio, parecem não ter sentido fora da escola. Porém, se os mesmos conhecimentos forem apresentados no lar do sujeito como algo comum, algo que faz parte da vida, algo necessário e, até, divertido, poderão ser assimilados com tanta eficiência e naturalidade quanto a fala.
É claro que isso não é tarefa fácil, principalmente se considerarmos alguns conhecimentos específicos. Porém minha proposta é aplicar o princípio da naturalização do aprendizado especificamente ao próprio processo de assimilação e elaboração de conhecimentos. Explico: o que deve ser internalizado pela criança como algo natural, necessário e prazeroso não são os conhecimentos em si, mas o próprio ato de estudar, pesquisar, elaborar...
As pesquisas realizadas em países em que existe o homeschooling têm demonstrado que os sujeitos ensinados em casa apresentam um nível muito alto de autonomia, autodisciplina, autodidática e curiosidade científica. Por quê? Porque eles aprenderam a estuda da mesma forma que aprenderam a andar de bicicleta, nadar ou utilizar o controle remoto da televisão. Aprender faz parte da vida dessas pessoas da mesma forma que outra práticas corriqueiras.
Volto a dizer que esse princípio também poderia ser aplicado em uma instituição escolar adequada, porém, mesmo assim, o lar da criança tem vantagem, uma vez que o sujeito já está ali, e já está aprendendo ali, com regras que conhece e compreende (pelo menos em parte), com autoridades que reconhece e respeita. Enfim, com as adequações e formatações corretas, o ambiente familiar pode-se tornar o maior potencializador do processo de ensino-aprendizagem de um ser.
Mas ressalto que a família, naturalmente, não possui os aparatos necessários para a instrução elaborada da criança... O ambiente é propício, mas algumas questões precisam relevadas. Porém, deixemos esta discussão para um próximo artigo...

Educação domiciliar - possibilitando uma aprendizagem natural (Primeira Parte)

Em meu último artigo procurei discutir um pouco sobre a aprendizagem como um processo natural - mesmo estando estreitamente ligado com o convívio social.
Já nesta postagem gostaria de ir além e trabalhar o conceito dá vida a este blog, qual seja: que sendo a aprendizagem um processo natural, seu desenvolvimento proposital e mediado terá maior eficácia sendo administrado no âmago do lócus mais comum e familiar ao sujeito aprendiz.
O que tudo isso significa?
Primeiramente, me refiro ao “desenvolvimento proposital e mediado da aprendizagem” como a educação elaborada, ou seja, aquela através da qual buscamos transmitir à criança os saberes elaborados durante a história humana, bem como desenvolver nela as habilidades necessárias para sua vida social e profissional. Comumente tratamos desse tipo de mediação como “educação escolar”, o que se constitui um equívoco, uma vez que não se trata de um processo exclusivo das instituições escolares.
Neste sentido, considero que essa educação elaborada é proposital porquanto um sujeito a propõe a outro sujeito menos experiente com o propósito de torná-lo mais apto. Da mesma forma a considero mediada pois, neste caso sim, sempre haverá algum tipo de mediação entre o conhecimento existente e o sujeito.
Tendo esses conceitos em mente, dou prosseguimento a meu raciocínio...
Nos últimos séculos temos tentado criar um espaço ideal no qual as crianças possam aprender tendo o aporte de profissionais especializados, metodologias e materiais adequados e uma estrutura especialmente planejada. Chamamos isso de escola. Talvez para a maior parte das pessoas a escola constitua o lócus ideal para a educação elaborada, uma vez que foi criada para isso. Porém, o que muitas vezes nos passa despercebido é que ao tirarmos uma criança de seu lar e a inserimos em uma escola podemos acabar forçando ou artificializando o processo natural de aprender.
Consideremos: o sujeitinho é inserido em um local estranho – diferente de qualquer outra estrutura que já tenha visto – , com dezenas ou centenas de outras crianças que não conhece, precisa se adaptar a regras e rotinas totalmente novas e (aos seus olhos) sem sentido, além de ter que se submeter à autoridade de outros adultos que não reconhece. E para piorar tudo: está totalmente desprovido do sentimento de segurança proporcionado pela presença de sua família.
É nesse ambiente hostil que a criança terá que se esforçar (ou ser forçado) a aprender coisas como ler, escrever e fazer contas – conhecimentos que não lhe fazem o menor sentido (!), uma vez que não os visualiza no dia-a-dia fora da escola.
Não estou afirmando que todas as escolas apresentam a imagem assustadora que pintei no parágrafo anterior... Nem mesmo que a escola não possa se constituir um espaço adequado para uma educação natural... Por favor, não interpretem mal minhas palavras.
Mas tenho sim que testemunhar que, na maior parte das vezes, as instituições criadas e mantidas sob nosso sistema educacional têm apresentam como conseqüência da massificação educacional um quadro igual ou pior do que aquele que aqui apresento...
Neste ponto gostaria de afirmar que não milito pela destruição das escolas. Pelo contrário: admiro muito quem luta por uma educação escolar de qualidade. Eu mesmo ficaria deveras feliz ao ver um Brasil com instituições escolares adequadas auxiliando e maximizando o potencial de aprendizagem das crianças. Porém, minha luta é outra...
Milito pela possibilidade de haver uma alternativa à educação escolar – com efeito, uma alternativa, não um substituto...
Talvez um dia tenhamos escolas com uma qualidade extrema. Mas mesmo assim considero importante termos o direito de educar nossos filhos em casa também...

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Aprendizagem: Processo Social ou Natural?

Algum tempo atrás, uma pesquisadora – que também é uma querida amiga – , a meu pedido, deu seu parecer quanto ao conteúdo de meus artigos, bem como sugestões para qualificar as discussões relacionadas à Educação Domiciliar e minha própria pesquisa sobre a temática.
Durante uma conversa, essa colega pedagoga levantou uma questão que considero bastante pertinente:
a aprendizagem realmente é um processo natural, ou seria uma construção social?
Lançando um olhar que se paute em algumas teorias da psicologia do desenvolvimento, poderíamos concluir que só há aprendizagem quando da existência de mediação do conhecimento. Neste caso, essa mediação somente pode se efetivar através de um sujeito ou de algum aparato desenvolvido por um ou mais sujeitos. Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem seria concebido como social, e não natural.
Porém, permitam-me problematizar essa lógica:
O processo de ensino-aprendizagem é, indubitavelmente, social. Entretanto, como ficaria a situação se dissociássemos os dois elementos? Explico: pensando no ensino e na aprendizagem isoladamente.
Deveras, como o próprio Paulo Freire já afirmava, não existe ensino sem aprendizagem – não existe docência sem discência. Para mim, não há dúvidas quanto a isso. Todavia, existiria a aprendizagem sem o ensino? Alguém pode aprender sem que outro sujeito o ensine?
Pensemos em um experimento fictício – afinal, seria cruel demais para ser realizado no mundo real. Um grupo de cientistas mantém um bebê recém-nascido em uma sala sem qualquer contato com outro sujeito. Através de algum sistema, eles alimentam o bebê e cuidam de sua saúde sem contato social. Nessa triste situação, será que, algum dia, o sujeitinho aprenderia alguma coisa? Talvez nosso impulso seja dizer que não, que sua consciência não passaria de suas percepções sensoriais...
Mas, será que essas mesmas percepções sensoriais não seriam capazes de permitir ao bebê descobrir, por exemplo, onde seu próprio ser termina e onde começa o resto do universo? Ou mesmo, que existe um universo exterior a ele próprio? Creio que sim...
Talvez o bebê dessa fatídica experiência nunca aprendesse a ler e escrever – ou mesmo falar – , mas, com certeza, aprenderia alguma coisa – por mais cru e bruto que fosse esse conhecimento.
Talvez, algum pesquisador da área possa me ajudar, mas creio que os neurônios de um ser humano estão, desde seu nascimento, prontos e ávidos por criar ligações com outros neurônios – o que, por si só, constitui-se aprendizado. A aprendizagem pode ocorrer através das percepções sensoriais, mediação social, situações de tentativa e erro ou mesmo de análise introspectiva, mas sempre será aprendizagem por criar ligações neurais inexistentes previamente.
Vou além e afirmo, como podem confirmar especialistas da medicina, que esse processo já ocorre antes do nascimento, ainda no útero materno!
Diante disso, não tenho como não afirmar que a aprendizagem é sim um processo natural. E, dessa forma, o ensino deve ocorrer levando-se em consideração essa natureza aprendiz do ser humano.
Talvez haja algum "furo" em um de meus argumentos, ou talvez haja pesquisas que tragam um olhar bem mais aprofundado sobre a questão. Por isso, peço a vocês leitores e colaboradores que me enviem comentários, seja para corroborar o pensamento aqui apresentado, seja para demonstrar suas fragilidades e falhas...
Entretanto, pautados no que foi exposto até agora, podemos concluir que a aprendizagem é um processo natural – mesmo estando estreitamente ligado com o convívio social. Dessa forma, passamos para um outro nível de discussão: sendo a aprendizagem um processo natural, seu desenvolvimento proposital e mediado terá maior eficácia sendo administrado no âmago do lócus mais comum e familiar ao sujeito aprendiz.
O que tudo isso significa?
Primeiramente, me refiro ao “desenvolvimento proposital e mediado da aprendizagem” como a educação elaborada, ou seja, aquela através da qual buscamos transmitir à criança os saberes elaborados durante a história humana, bem como desenvolver nela as habilidades necessárias para sua vida social e profissional. Comumente, tratamos desse tipo de mediação como “educação escolar”, o que se constitui um equívoco, já que não se trata de um processo exclusivo das instituições escolares.
Neste sentido, considero que essa educação elaborada é proposital porquanto um sujeito a propõe a outro sujeito menos experiente com o objetivo de torná-lo mais apto. Da mesma forma, a considero mediada pois, neste caso sim, sempre haverá algum tipo de mediação entre o conhecimento existente e o sujeito.
Tendo esses conceitos em mente, dou prosseguimento a meu raciocínio... Nos últimos séculos temos tentado criar um espaço ideal no qual as crianças possam aprender tendo o aporte de profissionais especializados, metodologias e materiais adequados e uma estrutura especialmente planejada. Chamamos isso de escola. Talvez, para a maior parte das pessoas, a escola constitua o lócus ideal para a educação elaborada, uma vez que foi criada para isso. Porém, o que muitas vezes nos passa despercebido é que, ao tirarmos uma criança de seu lar e a inserimos em uma escola, podemos acabar forçando ou artificializando o processo natural de aprender.
Consideremos: o sujeitinho é inserido em um local estranho – diferente de qualquer outra estrutura que já tenha visto – , com dezenas ou centenas de outras crianças que não conhece, precisa se adaptar a regras e rotinas totalmente novas e (aos seus olhos) sem sentido, além de ter que se submeter à autoridade de outros adultos que não reconhece. E, para piorar tudo: está totalmente desprovido do sentimento de segurança proporcionado pela presença de sua família.
É nesse ambiente “hostil” que a criança terá que se esforçar (ou ser forçado) a aprender coisas como ler, escrever e fazer contas – conhecimentos que não lhe fazem o menor sentido (!), uma vez que não os visualiza no dia-a-dia fora da escola.
Não estou afirmando que todas as escolas apresentam a imagem assustadora que pintei no parágrafo anterior... Nem mesmo que a escola não possa se constituir um espaço adequado para uma educação natural... Por favor, não interpretem mal minhas palavras!
Mas tenho sim que testemunhar que, na maior parte das vezes, as instituições criadas e mantidas sob nosso sistema escolar têm apresentam como consequência da massificação educacional um quadro igual ou pior do que aquele que aqui apresento...
Neste ponto gostaria de afirmar que não milito pela destruição das escolas. Pelo contrário: admiro muito quem luta por uma educação escolar de qualidade. Eu mesmo ficaria deveras feliz ao ver um Brasil com instituições escolares adequadas auxiliando e maximizando o potencial de aprendizagem das crianças. Porém, minha luta é outra...
Milito pela possibilidade de haver uma alternativa à educação escolar – com efeito, uma alternativa, não um substituto...
Talvez, um dia tenhamos escolas com uma qualidade extrema. Mas, mesmo assim, considero importante também termos o direito de educar nossos filhos em casa...
A educação no Brasil apresenta sérias limitações. Porém, mesmo em uma realidade diferente, na qual as instituições escolares oferecessem uma instrução formal 100% adequada e funcional, os pais deveriam ter o direito de escolher a modalidade de ensino para seus filhos.
É interessante que, quando uma empresa ou produto controla com exclusividade um setor do mercado, isso é chamado de monopólio, mas esse mesmo pensamento parece não ser aplicável à educação quando a situação posta apresenta a escola como única possibilidade para instruir formalmente um sujeito.
Mas, deixando essa questão do direito para outra oportunidade, e voltando ao tema deste artigo...
Como já explanei, uma criança aprende a falar – processo este que poderia ser considerado um dos mais complexos a ser apreendido – com naturalidade por estar incluso em um ambiente falante. Essa familiaridade com a fala, essa imersão em um ambiente em que, naturalmente, se está falando, em que a fala surge como uma necessidade para a sobrevivência do ser, bem como para suas relações sociais e, até, para seu autoconhecimento, faz com que o sujeitinho se desenvolva e aprenda (ou aprenda e se desenvolva...). Nessa mesma linha de raciocínio, poderíamos deduzir que qualquer conhecimento inserido na realidade da criança, em seu dia-a-dia, será apreendido com mais rapidez e facilidade.
Neste sentido, podemos perceber que temos um grande problema com a educação escolar: como boa parte do que ali é ensinado não é aplicado (ou mesmo visualizado) no quotidiano da criança, esses conhecimentos, a princípio, parecem não ter sentido fora da escola. Porém, se os mesmos conhecimentos forem apresentados no lar do sujeito como algo comum, algo que faz parte da vida, algo necessário e, até, divertido, poderão ser assimilados com tanta eficiência e naturalidade quanto a fala.
É claro que isso não é tarefa fácil, principalmente se considerarmos alguns conhecimentos específicos. Porém, minha proposta é aplicar o princípio da naturalização do aprendizado especificamente ao próprio processo de assimilação e elaboração de conhecimentos. Explico: o que deve ser internalizado pela criança como algo natural, necessário e prazeroso não são os conhecimentos em si, mas o próprio ato de estudar, pesquisar, elaborar...
As pesquisas realizadas em países em que existe o homeschooling têm demonstrado que os sujeitos ensinados em casa apresentam um nível muito alto de autonomia, autodisciplina, autodidática e curiosidade científica. Por quê? Porque eles aprenderam a estuda da mesma forma que aprenderam a andar de bicicleta, nadar ou utilizar o controle remoto da televisão. Aprender faz parte da vida dessas pessoas da mesma forma que outra práticas corriqueiras e, por isso, aprendem de forma natural.
Volto a dizer que esse princípio também poderia ser aplicado em uma instituição escolar adequada, porém, mesmo assim, o lar da criança tem vantagem, uma vez que o sujeito já está ali, e já está aprendendo ali, com regras que conhece e compreende (pelo menos em parte), com autoridades que reconhece e respeita. Enfim, com as adequações e formatações corretas, o ambiente familiar pode-se tornar o maior potencializador do processo de ensino-aprendizagem de qualquer criança.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O argumento "Fala Vs. Escrita"

Em minhas pesquisas deparei-me com inúmeros argumentos favoráveis à educação domiciliar. Alguns são profundos, outros nem tanto...
Mas um, em especial me chamou a atenção. Inclusive, quando tenho que explicar minhas motivações para pesquisar sobre o homeschooling, esse é o exemplo que parece trazer mais clareza sobre o potencial dessa modalidade de educação.
Vamos ao pensamento:


Na prática, o que seria mais difícil: um bebê aprender a falar ou uma criança mais (que sabe falar) aprender a escrever?


Se analisarmos com imparcialidade, a lógica - bem como a neurologia - nos dirá que seria mais difícil o bebê aprender a falar... Afinal, para isso, o sujeito precisa desenvolver uma série de capacidades bastante complexas. Até aqui, parece não haver qualquer equívoco...
Porém, a contradição surge quando constatamos que não mandamos os bebês para a escola com o fim de aprenderem a falar, mas levamos as crianças maiores para essas instituições para que aprendam a escrever!
Como um bebê consegue desenvolver uma habilidade tão complexa quanto a fala sem que um tutor lhe instrua com uma didática apropriada, fundamentada em teorias elaboradas e com a utilização de metodologias bem pensadas e estruturadas?
Simples: o ser humano está "programado" para aprender. Desde o nascimento de nosso primeiro neurônio estamos aprendendo... E isso é natural. Por isso, o simples fato de um bebê estar em um ambiente falante, recebendo estímulos para falar, faz com que o mesmo fale.
Simples assim...
Quanto à escrita, tiramos a criança do conforto de seu lar, a levamos para um local estranho (escola), a inserimos em um grupo social desconhecido (sala de aula), instituímos uma figura de autoridade que ela não reconhece (professor) e exigimos que ela aprenda algo que parece não fazer qualquer sentido (escrever).
Não é de se admirar que as crianças tenham tanta dificuldade para aprender a ler e escrever e que passem a odiar o contexto escolar!
Mas claro: considero que há exceções... não quero ser injusto neste sentido. Entretanto, em geral, a regra é que as crianças tendem a não gostar de ir à escola.
Um dos grandes problemas da educação institucionalizada é que ela torna artificial algo que deveria ser natural: o aprendizado.
É claro que o simples fato de ensinar uma criança em casa não garante o aprendizado... Mas, pelo menos, possibilita que a educação sistematizada faça parte do dia-a-dia da criança, de seu cotidiano. Se os pais escrevem, inserem a escrita no cotidiano da criança e estimulam o desenvolvimento dessa habilidade, com certeza o sujeito vai desenvolver essa competência com alegria e com muito mais facilidade – assim como acontece com a fala.
Neste sentido, quando contrastamos a fala e a escrita, torna-se bastante explícito que desenvolver o processo de ensino-aprendizagem de forma natural – em um ambiente em que a criança sinta-se segura (lar), rodeada de sujeitos que conhece e têm como referência (família) e por intermédio de figuras de autoridade que reconhece (pais) – é muito mais eficiente do que tentar realizar a mesma tarefa através de um processo artificial.
O ensino domiciliar, como podemos ver, não é meramente uma modalidade de educação, mas uma possibilidade para instruir nossos filhos de uma forma natural e, consequentemente, mais eficiente.

Qualificando o título

O título deste blog não foi escolhido em vão...
Considerando que o tema geral abordado e discutido neste espaço será a Educação Domiciliar, poder-se-ia imaginar que o título óbvio para o blog seria "homeschooling", ou "Educação Domiciliar".
Pois bem... os referidos nomes não foram utilizados por dois motivos: primeiramente, já havia outros blogs utilizando títulos iguais ou bastante semelhantes; em segundo lugar, creio que o caráter que diferencia este espaço de outros direcionados ao homeschooling é, justamente, a ideia de que instruir os filhos em casa tem como uma de suas grandes vantagens possibilitar que a construção do conhecimento elaborado se dê no dia-a-dia da criança, tornando-se, assim, parte de seu cotidiano e ocorrendo de forma natural.
Não pretendo entrar, neste momento, em discussões mais aprofundadas sobre o que considero natural ou não-natural. Quero, tão somente, expor que instruir as crianças no seio da família pode fazer com que a formação acadêmica se torne uma parte da vida do sujeito que não precisa ser imposta ou forçada, mas que ocorrerá naturalmente, seguindo o curso da existência sem grandes choques ou rupturas.
No futuro poderemos discutir e refletir bem mais sobre isso... Porém, para o momento, gostaria de agradecer a você que está dedicando alguns minutos para ler estas postagens, e lhe convidar para participar desta discussão. Seja você a favor ou contra a o ensino doméstico, peço que, ao menos, reflita sobre os argumentos relativos a esse assunto e colabore com suas análises. Seja você um doutor ou uma dona de casa, sua contribuição será muito bem-vinda – e, considero eu, grandemente necessária.
Creio que o homeschooling não deve ser descartado ou “engolido” por todos... Mas deve ser discutido. E você, ou melhor, todos nós somos a chave para que essa discussão ocorra da forma mais ampla e significativa possível...
Seja bem-vindo!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O que é "Educação Domiciliar"?


Para evitar equívocos ou mal-entendidos, gostaríamos de deixar claro o que entendemos por “Educação Domiciliar”.


A “Educação Domiciliar” não é...
…um método de ensino;
…a utilização de um material didático específico;
…a prática de tirar uma criança da escola;
…uma ideologia/filosofia fechada.


Todos esses elementos, de uma forma ou de outra, fazem parte da educação domiciliar. Mas, a ED em si não se resume a qualquer desses pontos.

O que é a “Educação Domiciliar”
A ED é uma modalidade de educação. Essa modalidade possui duas características específicas que a distinguem de outras (como a educação escolar e a educação à distância):


1. Os principais direcionadores e responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem são os pais do educando (aluno);

2. A educação não ocorre em uma instituição, mas no seio da própria família (no lar, na vizinhança, em passeios, etc.).

Dentro dessas características, podem haver inúmeras variações relacionadas a: material didático, rotina, sequenciação de conteúdo, atividades, avaliação, etc.

Equivalentes e Variações
Ensino Doméstico – termo utilizado em Portugal para se referir à ED
Homeschooling – termo utilizados nos EUA para se referir à ED – é a expressão internacionalmente utilizada para se referir a essa modalidade
Unschooling – termo utilizado, inicialmente, para se referir à “desescolarização”, ou seja, ao processo de transição da educação escolar para a domiciliar (cf. obra de John Holt). Atualmente, também se refere a uma variação da ED na qual se busca instruir os filhos eliminando qualquer referência à realidade escolar (grade curricular, planos de aula, avaliação sistematizada, etc.)

Outros nomes dados à ED:
  • Ensino em casa
  • Educação no lar
  • Escola em casa
  • Educação doméstica
  • Educação não-institucional
  • Educação familiar
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