segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Educação Emocional

Com este artigo fecharemos a série de estudos sobre os cuidados que devemos ter ao ensinar nossas crianças em casa. Foram vários artigos interessantes e polêmicos, e creio que todos serviram para, pelo menos, nos fazer pensar um pouco mais sobre a prática pedagógica do homeschooling. Através dessa série, procurei abranger o máximo de áreas possíveis, para dar uma visão global das necessidades educacionais dos educandos domiciliares. E, no mesmo espírito dos demais artigos, hoje irei abordar uma faceta muito importante da educação que, infelizmente, muitas vezes, é deixada de lado por não ser essencialmente intelectual. Neste artigo iremos tratar dos cuidados necessários com o emocional do educando.
Por conta de uma super-valorização ilógica do cognitivo, tanto o corpo quanto as emoções foram segregadas a um patamar inferior na educação. Na verdade, a educação contemporânea por pouco não repudia totalmente a inclusão dos sentimentos e do cuidado destes quando se trata de instrução oficial – que grande erro!
Gostaria de tratar da educação emocional em duas perspectivas básicas. A primeira diz respeito à formação do próprio ser emocional. Por mais estranho que isso possa parecer, ou por mais difícil de acreditar que seja, todo ser humano também precisa aprender a ser emocional. Com isso não estou querendo dizer que um bebê nasce sem sentimentos – de forma alguma! Cada um de nós nasceu com um pacote básico de emoções. Porém, essas emoções nascem com a criança em um estado bruto, primal, intuitivo e bastante cru. Conforme o sujeitinho vai se desenvolvendo, essas emoções primárias vão se desdobrando e sendo lapidadas para tomar sua forma definitiva no início da puberdade.
Para deixar mais claro o que estou tentando dizer, permita-me usar um exemplo prático. Quando o recém-nascido sente fome, essa sensação física gera um incômodo emocional. O organismo do bebê sabe que há algo errado e gera uma reação cujo objetivo é resolver o problema. Nesse processo, a sensação física incômoda faz com que o emocional da criança seja abalado, gerando o que podemos chamar de “tristeza primal”. Essa tristeza primal não possui um nível de elaboração muito complexo, mas é eficiente ao produzir uma reação: o choro. Ao chorar, a criança está levando para o mundo externo uma representação de sua tristeza primal que, por sua vez, tem origem na sensação física de fome. Com o passar dos anos, esse mecanismo vai se aprimorando, e a tristeza primal vai deixando de ser um reflexo natural baseada em uma sensação essencialmente física, tornando-se uma correspondência afetiva relacionada à cosmovisão, aos valores e expectativas do sujeito. No início da puberdade vemos o surgimento da “tristeza real”, ou seja, aquela que não possui uma função prática e imediata como a primal, mas que é uma expressão do próprio ser, da própria personalidade da pessoa.
O processo que leva uma emoção “primal” a se tornar uma emoção “real” é natural. Entretanto, como todo processo de desenvolvimento natural, é passível de potencialização mediante intervenção educativa. O que isso quer dizer? Que podemos e devemos auxiliar nossas crianças guiando elas enquanto estão se desenvolvendo emocionalmente.
Ajudar a criança a se acalmar quando está agitada, ensiná-la a expressar sua frustração sem direcionar esse sentimento a outra pessoa, instruir em como lidar com sentimentos de perda ou rejeição... Tudo isso faz parte de uma educação emocional, cujo objetivo é tornar a criança um sujeito emocionalmente equilibrado e saudável.
Cada pai, naturalmente, já exerce esse tipo de educação – por exemplo: quando a mãe abraça o filho e diz que vai ficar tudo bem enquanto a criança chora desesperada pela morte de seu animalzinho de estimação. Isso é educação emocional! Instruir emocionalmente é algo inerente à paternidade/maternidade. Somente devemos ter o cuidado de não desvalorizarmos isso, nem deixar isso de lado. Devemos compreender que os sentimentos das crianças ainda estão amadurecendo, e que nossa ajuda e orientação são essenciais para garantir a saúde emocional dos pequeninos.
Agora, gostaria de olhar para as emoções dos educandos domiciliares por outra perspectiva....
Ao educar intelectualmente e fisicamente, não podemos esquecer que as emoções estão envolvidas nesses processos – mesmo não sendo o objeto primário dos estudos. Isso quer dizer que, ao ensinar como ler, escrever, resolver problemas, etc., sempre estaremos tocando de alguma forma nos sentimentos do filho-aluno. Frases como “eu não gosto de matemática”, ou “que legal essa continha!” nos mostram que, definitivamente, há sentimentos envolvidos em todo processo educativo.
Devemos ter muito cuidado poi, muitas vezes, percebemos algum problema de aprendizagem que, na verdade, está sendo gerado por alguma questão emocional. Por exemplo: uma criança que se sente rejeitada pelo pai quando não consegue responder a uma questão com rapidez terá a tendência de não fazer esse tipo de atividade para não errar, ou irá “se afobar” muito para responder e, por conta disso, terá muito erros – mesmo sendo intelectualmente capaz de realizar a tarefa. Nesse caso, repassar o conteúdo novamente, utilizar métodos diferenciados ou aplicar mais exercícios não irá resolver o problema. A questão é emocional e, como tal, deverá ser tratada no nível os sentimentos. Os pais precisarão levar a criança ao ponto de compreender e sentir que não está sendo rejeitada. Ao se sentir segura, compreendendo o porquê da cobrança dos pais, o pequenino irá ter maior liberdade para aprender e se exercitar com prazer.
Esse cuidado com os sentimentos das crianças é essencial, e pode fazer toda a diferença em alguns casos.
Mas, atenção! Com isto não estou dizendo que os pais devem fazer todas as vontades de seus filhos, ou realizar todos os seus desejos. DE FORMA ALGUMA!!! Cuidar do emocional implica, muitas vezes, em dizer “NÃO”, em gerar situações de atrito e em exigir que a criança faça coisas que não tem vontade. Esse tipo de prática, por mais difícil que seja, é essencial, pois leva as emoções a amadurecerem para lidar de forma correta com a negação, as limitações e as contradições.
Esse é um tema muito interessante e bastante profundo. Portanto, não tentarei exaurir todas as possibilidades de comentários e discussão neste artigo. Ao contrário, usarei este texto como ponte para futuras postagens relacionadas ao tema. Entretanto, encerrando nossa série sobre cuidados, não posso deixar de dizer que devemos ter um cuidado redobrado com o emocional de nossas crianças.
Ao ensinar em casa, devemos ter um olhar de cuidado global, pois nossos filhos possuem muitas necessidades. E essas necessidades abrangem inúmeras e diferentes áreas. Afinal, nossas crianças são seres intelectuais, físicos e emocionais – são seres humanos!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Educação Física

Algum tempo atrás falamos sobre a importância dos esportes para o desenvolvimento de inúmeras habilidades e competências importantíssimas para a criança. Usando esse “gancho”, nesta semana iremos falar sobre um outro cuidado relacionado ao corpo: a educação física.
Mas, cuidado! Não confunda a educação física tratada neste artigo com a disciplina homônima existente na grade curricular das escolas. Aqui estamos nos referindo a instruções educacionais cujo objetivo é a manutenção do corpo físico e o pleno desenvolvimento de suas capacidades, integrando esse desenvolvimento físico ao intelectual, emocional e sócio-afetivo.
Neste sentido, precisamos ter o cuidado de não negligenciar a educação física quando estamos ensinando nossos filhos em casa. Afinal, muitas vezes, o desenvolvimento intelectual é super-valorizado em detrimento ao desenvolvimento físico.
O que precisamos ter em mente é que, apesar da super-valorização do intelectual que vemos na contemporaneidade, o ser humano não é somente intelecto. Cada um de nós é formado por um corpo físico e por uma alma (mente, volição e emoções). Tenho certeza que alguns acrescentariam o espírito a essa equação, porém, não entrarei nessa discussão – pelo menos, não por enquanto. Quando transmitimos informações aos alunos domiciliares, estamos trabalhando em um nível mental com eles – desenvolvendo somente uma parcela do seu ser. Entretanto, o desenvolvimento de uma pessoa deve ser global e total, abrangendo todas as áreas de sua existência. Devemos desenvolver a mente sim, mas sem esquecer das emoções e do corpo da criança.
Na verdade, várias pesquisas têm demonstrado através dos anos que há uma correlação muito estreita entre o desenvolvimento corporal e o mental de cada pessoa. Muitos pesquisadores relatam como o desenvolvimento de certas habilidades mentais requer a existência de competências físicas prévias.
Podemos citar como exemplo a lateralidade. O nível de desenvolvimento da lateralidade será determinante para a aquisição da habilidade de leitura e escrita. O problema do “posicionamento da barriga” durante a escrita das letras “b”, “d”, “p” e “q” está diretamente ligado à capacidade de compreensão que a criança tem de espaço e direção. Uma criança com lateralidade amplamente desenvolvida irá passar mais rapidamente por essa fase problemática – ou poderá nem passar por ela!
Além dessa questão dos requisitos físicos para o desenvolvimento de competência intelectuais, a educação física também se mostra uma necessidade porque é através dela que os pais ensinarão a seus filhos como cuidar de seu corpo e de sua saúde. Cada pai-mestre deve instruir seus filhos-alunos sobre a importância de praticar exercícios físicos, realizar alongamentos quando de um longo período na mesma posição ou fazendo movimentos repetitivos, etc.
A higiene pessoal também faz parte da educação física e, com certeza, deve estar presente na instrução dada pelos pais aos seus filhos durante os momentos de educação domiciliar.
Mas, falemos da parte prática... Como deve-se desenvolver essa educação física? É necessário haver um horário todos os dias para a execução desse tipo de instrução? Não necessariamente...
Cada família deve analisar sua situação e determinar qual é a melhor forma de instruir suas crianças sobre como cuidar do próprio corpo. Mas minha sugestão é que, a cada dia, pelo menos meia hora seja investida em alguma atividade física. Seja um bate-bola, uma brincadeira de pega-pega, corrida, natação, etc.
Já as instruções relacionadas a como cuidar do corpo e da higiene podem ser dadas durante o dia, em momentos não oficiais de instrução. Mas nada impede que haja um tempo, uma ou duas vezes por semana, no qual o pai ou a mãe trabalha especificamente algum conceito da educação física.
Aí vão algumas ideias do que fazer para ajudar a educar fisicamente uma criança:

  • Utilizar brincadeiras (como siga o líder) para desenvolver a lateralidade da criança, mexendo com noções de direita, esquerda, em cima, em baixo, etc;
  • Permitir que a criança desenvolva sua coordenação motora fina através das fases de desenvolvimento (utilizar massa de modelar, tesoura, lápis de cera, lápis grosso, lápis fino, caneta, etc.);
  • Criar o hábito de praticar alguma atividade física todos os dias (jogando bola, correndo, nadando, etc.);
  • Instruir sobre a importância e a forma correta de praticar a higiene pessoal;
  • Misturar trabalhos intelectuais com físicos, pedindo que parte da atividade seja desenvolvida através da escrita, pesquisa ou oralidade, enquanto outra parte seja apresentada através de algum jogo ou encenação que utilize movimentação e utilização ativa do corpo.

Independentemente das estratégias utilizadas, o importante é que não deixemos a educação física em segundo plano. Ao contrário, devemos pensá-la e aplicá-la como uma parte essencial do desenvolvimento humano de nossas crianças, pensando na forma mais adequada de proporcionarmos aos nossos filhos um desenvolvimento total e global.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Exposição

O medo de muitos pais é ser denunciado por ensinar os filhos em casa, e esta semana vamos falar um pouco sobre isso. No mês de julho escrevi um artigo sobre essa temática, intitulado “Como não ser denunciado por ensinar em casa”, e sugiro que você leia ele antes de continuar com o post desta semana.
No texto de julho trabalhei vários aspectos que deveriam ser observados. Hoje, entretanto, gostaria de abordar algo diferente: a necessidade de trabalhar com a criança para que ela mesma não exponha sua situação a outrem.
Como vocês devem saber melhor do que eu, a maioria das crianças é muito espontânea e, por isso, acaba relatando às pessoas mais do que deveria. Creio que cada pai poderia descrever inúmeras situações engraçadas e/ou constrangedoras pelas quais passou por conta da espontaneidade de seus filhos. Entretanto, quando se trata de uma situação delicada como a educação domiciliar, essa espontaneidade pode culminar em algo muito mais incômodo do que um mero constrangimento passageiro...
Creio que todos já devam ter percebido que “educação” é, sem dúvida, um dos temas preferidos quando um adulto pretende conversar com uma criança. Basta você encontrar um amigo ou conhecido enquanto faz compras com seu filho para que esse adulto comece a perguntar sobre a educação sistematizada da criança. Algumas das perguntas mais frequentes são:

  • Você já vai pra escola?”
  • Em que ano você está?”
  • Você já saber ler/escrever?”
  • Em qual escola você estuda?”
  • Você gosta da sua professora?”

E qualquer uma dessas questões poderia disparar respostas como: “Eu não vou pra escola”; “Eu estudo em casa”; “Minha professora é minha mãe”, ou algumas mais complicadas ainda, tais como: “Meus pais acham que a escola é muito ruim e nunca vão me mandar pra lá”.
Já ouvi relatos de pais que se encontraram em situações muito delicadas quando seus filhos relataram abertamente a estranhos que não iam à escola, e que eram ensinados pelos próprios pais em casa. Felizmente os pais souberam tratar da situação e não houve problemas maiores, mas, a partir de então, buscaram trabalhar com seus filhos para que os mesmos episódios não se repetissem.
Se uma família pretende manter em sigilo sua opção de educar as crianças fora da escola, se faz necessário um cuidado especial para que o próprio filho-educando não exponha essa situação. Mas, como fazer isso?
A primeira dica prática é evitar que a criança fique muito tempo conversando sozinha com outro adulto. Nos dias de hoje, por conta da violência e atos bárbaros que vemos todos os dias nos noticiários, os pais não deixarem seus filhos sozinhos é uma obrigação, e não um mero cuidado. E esse cuidado deve abranger, também, o cuidado para direcionar as eventuais conversas que um outro adulto possa ter com seu filho.
Você pode sim permitir que um outro adulto converse livremente com seu filho. Entretanto, quando surgir perguntas referentes à “escola”, tente mudar de assunto, ou desconversar. Faça de uma forma natural, dizendo coisas como: “Puxa, mas as crianças aprendem rápido, né? O meu filho está aprendendo a ler super rápido!”. Dessa forma, o foco da conversa mudará para o conteúdo aprendido, deixando de lado o local do aprendizado. Provavelmente, o outro adulto irá mudar sua pergunta para algo assim: “Ah, é? Então você já está aprendendo a ler?”.
Seja criativo, e tente direcionar a conversa para “longe” dos detalhes referentes ao locus da aprendizagem.
A segunda dica é conversar com a criança e explicar a situação de forma clara e aberta. As crianças possuem uma capacidade de compreensão muito maior do que imaginamos, e elas estão aptas a entender quando estão em uma situação delicada que precisa de cuidados. Aí cai um modelo do que pode ser dito:
Filho, preciso pedir um favor. O papai e a mamãe acham que o melhor pra você é estudar aqui em casa, junto com a família, mas existem pessoas que acham isso ruim e podem tentar obrigar a gente a te mandar pra escola. Se isso acontecer, o papai e a mamãe podem ter que pagar muito dinheiro e, talvez, até ir pra cadeia. Então, pra isso não acontecer, essas pessoas não podem ficar sabendo que você estuda aqui em casa, tá bom! Não conta pra ninguém!”
Você pode adaptar isso conforme a idade e a compreensão de seu filho, mas eu garanto que ele vai entender e fará todo o possível para evitar que outras pessoas saibam de sua situação.
Agora, o que fazer se algum adulto fizer uma pergunta direta para a crianças sobre isso e não houver como os pais interferirem? Aí entra a terceira dica: treine respostas programadas com seu filho. Converse com seu filho e treine com ele para que dê respostas genéricas que não sejam mentira, mas que responde às perguntas sem explicitar a educação domiciliar. Vejamos alguns exemplos:

  • Pergunta: Onde você estuda?”
    Resposta:Eu estudo no bairro tal
  • Pergunta: Como é o nome da sua escola?”
    Resposta:Eu não sei o nome... Só sei que estudo no meu bairro”

É claro que não há como prever todas as perguntas que podem ser feitas, nem imaginar o grau de insistência que as pessoas terão ao perguntar sobre isso. Mas é possível preparar as crianças para responder minimamente “despistando” qualquer possível denunciador.
As famílias que têm feito isso me informaram de que tem sido eficiente, e que não passaram por mais situações complexas após aplicarem essas 3 dicas. Entretanto, espero que mais pessoas possam contribuir relatando suas experiências e estratégias pessoais, pois, neste quesito, realmente não há teoria pedagógica que possa nos ajudar.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Socialização

E, mais uma vez, voltamos ao assunto que se constitui, hoje, o segundo aspecto mais polêmico sobre a educação não-escolar no Brasil: a socialização.
Como a maioria de nós já sabe, um dos maiores questionamentos sobre a aplicabilidade da educação domiciliar em nosso país (e em outros também) diz respeito à suposição de que essa modalidade impediria ou dificultaria o desenvolvimento social das crianças. Creio que já discutimos isso o suficiente para dizer, com certeza, que tal preocupação não possui respaldo científico ou empírico. Uma criança ensinada em casa (ou em qualquer outro ambiente) pode muito bem se desenvolver socialmente de forma plena e saudável.
Entretanto, não podemos ignorar o fato de que é necessário sim um cuidado especial para que o aluno domiciliar vivencie constantemente situações de convívio social.
Por que digo isso? Porque a rotina do ensino em casa pode nos levar a uma acomodação não-intencional ou a uma distração involuntária que poderá redundar em déficit no desenvolvimento social de nossas crianças. Não estou afirmando que isso irá efetivamente ocorrer, mas que devemos agir de forma consciente e consistente para evitar que isso ocorra.
Neste sentido, os pais que estão instruindo seus filhos devem planejar atividades que, de alguma forma, propiciem um ambiente no qual as crianças possam entrar em contato com sujeitos de outras faixas etárias, advindos de outros locais geográficos, de outras famílias, culturas, etc. E não somente o contato deve ser propiciado, mas a interação – pois é interagindo com o “outro” que a criança irá desenvolver habilidade social e competências relacionais.
O contato com a diversidade, bem como o relacionamento com outras pessoas é muito importante para ajudar a criança a se preparar para a interdependência social que encontrará enquanto adulto.
De que forma podemos proporcionar esse contato social? Há várias opções. Vejamos algumas delas:

  • Escolinhas de esportes (futebol, basquete, natação, artes marciais, ginástica, etc.);
  • Escolas de artes (desenho, pintura, dança, instrumentos musicais, canto, etc.);
  • Cursos de línguas;
  • Cursos de informática;
  • Passeios em praças e/ou parques comunitários;
  • Atividades religiosas/espirituais;
  • Participação em gincanas, concursos, etc;
  • Ruas de lazer;
  • Envolvimento com atividades folclóricas/culturais;
  • Participação em momentos de estudo com outros alunos domiciliares;
  • Atividades educacionais que requerem contato pessoal (entrevistas, micro-biografias, pesquisas estatísticas, etc.).

Enfim... Há inúmeras possibilidades para gerar contato social entre a criança e outros sujeitos. Entretanto, é importante ressaltar que essas atividades planejadas não são a única forma de socialização. O simples fato de permitir que a criança brinque com seus primos, vizinhos ou que tenha contato espontâneo com qualquer outra pessoa já constitui trocas e relações muito valiosas para o desenvolvimento da habilidade social.
Tanto a socialização planejada quanto a espontânea são importantes, e devemos ter cuidado para permitir que ambas existam no dia-a-dia do educando domiciliar.
Mas, voltando aos contatos sociais planejados, gostaria de destacar a importância e as vantagens de um deles. Provavelmente, no futuro, poderemos discutir sobre várias outras atividades, mas, neste momento, gostaria de abordar o grande benefício proporcionado pela prática do esporte.
Deixando um pouco de lado os benefícios de ordem física e fisiológica (que são inegáveis), é perceptível que a prática do esporte auxilia em muito no desenvolvimento de várias noções essenciais ao sujeito social contemporâneo. Vejamos algumas delas:

  • Regras – todo e qualquer esporte/jogo é formado, essencialmente, por regras. É interessante notar que um jogo é divertido somente se suas regras forem seguidas. Se não houvesse regras, cada jogador poderia fazer o que bem entendesse, o esporte/jogo ficaria sem sentido e, dessa forma, deixaria de ser divertido. Ao compreender que para se divertir será necessário seguir as regras do esporte, a criança está desenvolvendo o conceito de “regras” e de “condutas adequadas”, bem como a noção de importância da existência de regras para o ser humano;
  • Ordem – ao praticar um esporte/jogo, a criança também passa a compreender melhor a necessidade de ordem, de organização, de coordenação. Para ter sucesso na atividade, o sujeitinho precisará aprender a agir de forma adequada, no tempo adequado e com a ordem necessária. E todos concordamos que essas noções também serão muito importantes para ele em sua vida cotidiana;
  • Trabalho em equipe – muitos esportes/jogos são coletivos e, por isso, requerem a ação em grupo. Para se divertir e, talvez, vencer, o indivíduo precisa desenvolver a competência de agir de forma coordenada juntamente com um ou mais companheiros. Inclusive, com o tempo e a maturidade, a criança irá perceber que quanto mais integração há entre os membros da equipe, mais eficiente ela se torna. Em uma sociedade tão interdependente quanto a nossa, essa competência proporcionada pelo jogo coletivo se torna imprescindível;
  • Disciplina/Auto-controle – o treino e a preparação são elementos presentes em qualquer esporte/jogo (seja visando uma competição ou não). Ao escolher privar-se de algo, ou decidir realizar uma atividade que requer sacrifício, o atleta está exercendo disciplina sobre si mesmo. E essa disciplina mostra-se outra habilidade essencial para qualquer ser humano. Quanto mais cedo a criança começar a aprender como se disciplinar e se auto-controlar, mais saudável será seu desenvolvimento sócio-afetivo. Aprender a lidar com a derrota, saber como agir com os adversários e com os colegas de equipe que falharam de alguma forma são experiências riquíssimas para uma criança que está se desenvolvendo socialmente;
  • Motivação – por fim, a motivação necessária para o exercício de qualquer esporte/jogo irá ajudar o sujeitinho a desenvolver sua habilidade de se automotivar quando necessário, buscando a energia emocional e a atitude mental necessárias para a efetivação das atividades e para que os objetivos propostos sejam alcançados.

Como vocês podem perceber, a prática de esportes e/ou jogos se mostra uma atividade extraordinária para a socialização dos alunos domiciliares. Entretanto, não se faz necessário que essa prática seja realizada em escolinhas particulares ou em instituições pagas. A prática do esporte pode ocorrer no campinho perto de casa, ou no parque, ou em qualquer outro local, mesmo sem a existência de um instrutor profissional. O importante é que o esporte seja praticado. Quem sabe, você mesmo possa reunir as crianças da rua, ou da quadra, ou outros alunos domiciliares, e começar a realizar alguns treinos de algum esporte uma vez por semana. Mais importante do que o profissionalismo do treinador ou do que vitórias em campeonatos é a possibilidade de desenvolvimento sócio-afetivo das crianças.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Avaliação

Recentemente, um casal que aplica homeschooling com seus dois filhos me pediu para avaliar o desenvolvimento dos mesmos, e isto me inspirou a escrever sobre alguns cuidados que devemos ter ao avaliar os processos educativos.
Primeiramente, gostaria de lembrar que, como já trabalhamos em outras postagens, não devemos avaliar o educando, mas o processo de ensino-aprendizagem. Isso faz alguma diferença? Não... Isso faz TODA a diferença.
Avaliar o educando significa classificar a criança, atribuindo um conceito a ela ao compará-la com outro sujeito ou a um padrão desejável que, na maioria dos casos, é bastante abstrato. Fruto direto desse tipo de avaliação são as notas, através das quais dizemos que o sujeitinho é um aluno 75, ou que teve 75% de aproveitamento, ou que é um aluno B, etc. Esse tipo de avaliação, baseada em notificação ou conceituação, é pouco eficiente, pois, quando muito, mostra que existe um problema sem, contudo, revelar qual é esse problema ou apontar alguma saída para o mesmo.
Com efeito, que benefício haveria em dizer que uma criança tirou 5,7 em uma prova? De que serve isso? Objetivamente para nada além de classificar esse educando, segregá-lo e mostrar que há alguma coisa errada.
O que propomos não é a avaliação do sujeito, mas do processo.
Desta forma, ao avaliar deveríamos estar respondendo às seguintes perguntas:

  1. Existe um problema?
  2. Qual é esse problema?
  3. Qual é a possível causa desse problema?
  4. Quais são as possibilidades de sanar essa falha?

Isto não quer dizer que os instrumentos a serem utilizados para a avaliação serão totalmente diferentes, mas que o tratamento dado aos resultados será outro. Por exemplo: digamos que em um trabalho de geografia, a criança demonstre 83% de aproveitamento nas questões propostas. Em vez de simplesmente dar 8,3 para o trabalho do filho e “passá-lo”, os pais deveriam analisar quais foram os 17% que faltaram e por que faltaram. Se a criança não assimilou as informações, será necessário repassá-las novamente de uma forma diferente, ou por meio de uma linguagem mais adequada. Se o problema foi uma não compreensão do enunciado do trabalho, talvez fosse importante reelaborar esse enunciado e/ou utilizar outra estratégia para comprovar se o educando compreendeu ou não os conceitos. Talvez a criança esteja com dificuldades de interpretação de texto, ou talvez não conheça algum vocábulo utilizado no enunciado. Ainda há a possibilidade de o sujeitinho simplesmente ter se distraído em algum momento do trabalho, ou de não estar bem fisica ou emocionalmente.
Como podemos perceber, esse tipo de avaliação qualitativa, não somente demonstra o progresso do processo de ensino-aprendizagem, como aponta os próximos passos do mesmo. Se a falha está na interpretação textual, os pais devem trabalhar isso; se está na transmissão das informações, idem.
Ao avaliar, os pais devem ter esse cuidado: de não somente avaliar a criança, mas avaliar o progresso da criança, avaliar os métodos utilizados, a linguagem utilizada, o material didático e avaliar a si mesmos enquanto preceptores.
Neste sentido, a avaliação não deve ficar restrita a “provas” ou trabalhos específicos ao final de um período, mas deve ser uma prática constante em todo o processo. Todos os dias devemos estar avaliando nosso desempenho enquanto ensinadores, a resposta dos educandos e a efetividade dos métodos e materiais. É essa avaliação qualitativa e constante que permitirá um progresso permanente na qualificação do ensino e da aprendizagem domiciliar.
Mas, devemos ou não avaliar o educando? Sim e não...
Ora, sem contradição alguma: não devemos considerar a avaliação como um processo em que meramente avaliamos o sujeito educando. Entretanto, analisar os progressos e deficiências no desenvolvimento da criança é fundamental para uma avaliação qualitativa e global.
Referente a isso, cabe ressaltar que não tratamos aqui de comparar a criança com outros sujeitos, nem com um padrão abstrato. Avaliar um educando é comparar ele com ele mesmo.
Como podemos avaliar um sujeito comparando ele com ele mesmo? Simples (ou nem tanto): constatando onde e como a criança estava em termos de conhecimentos e habilidades/competências quando o processo foi iniciado e onde e como ela está agora. Isso irá mostrar seu progresso real, explicitando quais informações memorizou, quais conhecimentos assimilou e quais habilidades/competências desenvolveu.
É interessante notar que, durante esse processo, também será possível constatar quais são as principais aptidões e deficiências do sujeitinho. Isso permitirá futuras intervenções muito mais eficientes quanto à qualificação do processo e direcionamento da criança.
Para finalizar, gostaria apenas de apontar, como já fiz em artigos anteriores, a necessidade de não limitarmos a avaliação a modelos tradicionais de provas no estilo “pergunta e resposta”. Esses trabalhos podem ser utilizados e possuem seu valor, mas não devem ser os únicos. Devemos avaliar o processo pela observação, pela auto-análise, pelo diálogo entre todos os envolvidos no processo (inclusive com o educando) e pela produção intelectual. Este último item refere-se a tudo o que a criança produz com base em seu aprendizado e será a ferramenta mais preciosa para determinar exatamente o que a criança realmente está aprendendo.
Que tipo de produto intelectual podemos requerer? As possibilidades são infinitas... Mas aí vão alguns dos mais conhecidos e adaptáveis:

  • Redações;
  • Trabalhos de pesquisa;
  • Histórias em quadrinhos baseadas nos conhecimentos trabalhados;
  • Cartazes;
  • Resumos;
  • Poemas baseados nos conhecimentos;
  • Apresentação oral;
  • Teatros (encenações, teatros de fantoches, etc.);
  • Apresentação de slides;
  • Vídeos documentários;
  • Criação de jogos baseados nos conhecimentos;
  • Etc.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Local de Estudo

Em termos bastante práticos, devemos ter um cuidado todo especial quando escolhemos e/ou organizamos um local específico de estudo para nossas crianças. A ergonomia educacional é algo que, apesar de parecer estritamente técnico, se constituiu como um grande potencializador do processo educativo.
Entretanto, antes de falarmos especificamente sobre os cuidados necessários ao se organizar o espaço educacional, cabe ressaltar que não estamos falando de um lugar que terá a exclusividade do conhecimento. Explico: o conhecimento está em toda parte, e pode ser adquirido em qualquer lugar. Toda criança está constantemente aprendendo, seja na rua, seja em casa, seja no parque, no campinho, no carro, etc. O conhecimento é inerente a todos os seres, objetos e espaços e, portanto, onde quer que a criança esteja, estará apta a apreender informações sobre e através desse local.
É importante que haja um espaço dentro de casa onde a criança terá o momento “oficial” de instrução. Isso é necessário para que o sujeitinho se organize e aprenda sobre os locais adequados para cada atividade. Porém, não podemos restringir o conhecimento/aprendizado a esse local. Devemos estar ensinando o tempo todo: na cozinha, na sala de estar, no banheiro, no jardim, etc. A vida e o cotidiano da criança deve ser uma grande aula que ocorre em diferentes espaços.
Feita essa ressalva, passo a considerar especificamente o espaço oficial de aprendizado”.
Da mesma forma que uma rotina de estudos ensina uma criança a diferenciar os requisitos de diversos momentos do cotidiano, um espaço oficial de aprendizado ensina os pequeninos as diferentes necessidades de locais/espaços dedicados a atividades específicas.
É óbvio que há diversas formas de se organizar um lar, mas, em geral, os espaços existentes e suas funções são, minimamente, entendidos. Há um espaço para dormir, um espaço para comer, um espaço para fazer as necessidades, um espaço para realizar a higiene, etc. Muitas vezes, a um espaço é atribuída mais de uma função, enquanto a mesma função também pode ser atribuída a mais de um espaço. Entretanto, apesar das diferentes formas de organização, sempre há a atribuição de funções aos espaços.
Neste sentido, o local oficial de estudos torna-se mais um dentre os muitos espaços com função específica. É nesse local que a criança irá receber boa parte das instruções, fará pesquisas, exercitará seus conhecimentos, organizará seu material de estudo, etc. Quando precisar meditar, se concentrar, se aprofundar em conhecimentos, esse local será um refúgio, um porto seguro, um espaço do conhecimento onde a criança estará totalmente livre para mergulhar na aprendizagem.
Pode-se aprender na cozinha? Sim! E deve-se! Mas haverá momentos em que a criança deverá estudar em um local onde não haja barulho de louças sendo lavadas, nem cheiros deliciosos para distraí-la de suas tarefas.
Pode-se aprender na sala de estar? Sim! E isso é maravilhoso! Mas, muitas vezes, o sujeitinho precisará ficar longe da tentação da TV para poder se concentrar em algum problema a ser solucionado.
Pode-se aprender no quintal? É evidente! E esse é um espaço excepcional para se aprender muito! Entretanto, haverá situações em que os animais, as plantas e os sons intrigantes dos vizinhos poderão ser um atrapalho grande, interferindo negativamente mais do que positivamente.
Dessa forma, vemos que na diversidade de espaços há diversidade de aprendizado, mas que tudo deve ser dosado e planejado de tal forma que o remédio não se torne veneno pela utilização equivocada.
É interessante notar, inclusive, que crianças ensinadas em casa apontam o espaço oficial de estudo como um dos seus locais preferidos na casa (isso quando não é apontado como o local mais agradável). Deveras, acredito que isso ocorre porque esse é o espaço em que o estudante pode mergulhar profundamente no conhecimento. Não há distrações. Não há atividades diversas. Há somente um objetivo: conhecer. A diversidade de todos os outros espaços do mundo proporciona uma quantidade infinita de informações que serão mastigadas, digeridas e assimiladas ali: no espaço oficial de aprendizado.
Creio que poderíamos passar muito mais tempo falando sobre a importância desse espaço, mas passemos para questões mais práticas: como deve ser esse local?
Uma vez que o espaço oficial de estudos será o ponto de partida para disparar o mecanismo de aprendizagem, e sendo que nele a criança irá “brincar” com os conhecimentos, mexendo e remexendo neles, analisando, assimilando as informações e dando o pontapé inicial para o desenvolvimento de capacidades/competências, é necessário que ele seja escolhido e organizado com muito cuidado, considerando a forma mais eficiente de se potencializar o processo de ensino-aprendizagem.
Neste sentido, vejamos os principais cuidados que deve-se ter ao escolher/preparar um local:

  1. Escolha um lugar SILENCIOSO. Rádio e televisão podem ser ferramentas úteis em vários momentos do aprendizado infantil, entretanto, também podem ser indesejáveis quando se há a necessidade de concentração. Portanto, escolha para seu filho um local de estudo longe desses aparelhos. Evite também locais próximos a telefones e outros aparelhos que possam gerar ruídos (constantes ou súbitos). O silêncio ajuda a maioria das crianças a se concentrar melhor e, assim, assimilar de forma mais efetiva conteúdos mais complexos e/ou teóricos. Mas, ATENÇÃO! Se seu filho não consegue se concentrar sem algum som (como música, por exemplo), seja cuidadoso ao incluir isso nos estudos. Procure evitar músicas com muita variação no ritmo ou na letra, e ajude seu filho a se disciplinar a ouvir a música num som baixo. Caso haja mais de uma criança aprendendo no mesmo espaço, considere a possibilidade de utilizar fones de ouvido para o que gosta de som (mas evite fones intra-auriculares, pois são mais prejudiciais para a audição a longo prazo).

  1. Opte por um espaço BEM ILUMINADO. Uma boa iluminação, não somente evita problemas de visão, como ajuda o educando a ficar mais concentrado e alerta. Se possível, planeje bem o local e o horário de estudos para que seja aproveitada a luz natural. Entretanto, se isso não for possível, escolha um espaço com boa iluminação artificial e analise se não é necessária uma luminária sobre a escrivaninha/mesa para garantir uma boa visão.

  1. Garanta que o local seja BEM VENTILADO. Ar fresco ventilando o tempo todo ajuda a evitar o cansaço mental e o sono. Nunca deixe seu filho estudando em um quarto fechado ou abafado. Garanta que haja uma abertura pela qual o ar possa entrar, e uma outra pela qual ele possa sair. Caso o ar esteja muito seco, coloque uma vasilha com água próxima à escrivaninha/mesa. Se for necessário um ventilador, coloque-o em uma posição que faça o ar circular, mas sem atingir diretamente o espaço de estudos – isso pode fazer com que anotações “voem”, ou que a criança se distraia tendo que segurar páginas para que não virem com o vento.

  1. Ajude seu filho a manter o espaço ORGANIZADO. A organização e a limpeza do espaço em que se estuda são fundamentais. É imprescindível que haja facilidade para se encontrar cadernos, anotações, livros e atividades quando necessário. Por isso, após o período de estudo, a criança deve desenvolver o hábito de organizar o local para que esteja pronto para ser utilizado no próximo dia de estudos. Obviamente, isso será mais difícil com as crianças menores. Entretanto, os pais poderão ajudar esse sujeitinho a aprender como fazer isso e, com o tempo, se disciplinar a manter seu espaço limpo e organizado. Isso não somente ajudará para a potencialização dos estudos, como irá desenvolver uma competência inestimável para a criança, que a utilizará em diferentes momentos de sua vida.

  1. Organize o local de estudo de seu filho para que seja ESTETICAMENTE AGRADÁVEL. Um local oficial de estudos precisa ser prático, mas também deve ser bonito. Um espaço agradável e de boa aparência ajuda a criança a ter mais ânimo e desejo para estudar. Neste sentido, utilize “enfeites” que possam ser utilizados durante o ensino ou que não sejam tão chamativos que possam distrair a atenção do educando. Opte, também, por cores quentes (vermelho, laranja, amarelo), pois estas fazem com que a criança fique mais alerta – diferente das cores frias (azul, lilás), que relaxam e dão sono.

Além desses cuidados necessários para a escolha do local oficial de estudos, outro cuidado que deve-se ter é utilizar uma cadeira e uma mesa/escrivaninha adequadas para evitar a má postura. A cadeira deve ser confortável e manter a coluna reta. Escolha, também, uma mesa que seja compatível com a altura da criança, evitando que ela tenha que se debruçar para ler ou escrever. Os mesmos cuidados devem ser tomados quando o aluno domiciliar irá utilizar computador.
Creio que estas sejam as principais questões que deverão ser observadas quanto ao espaço oficial de aprendizado da criança. Porém, se for necessário, poderemos tratar mais desse assunto no futuro.
Espero que tenha sido útil, e aguardo os comentários de todos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Transmissão das Informações

Esta semana iremos abordar um aspecto bastante interessante do aprendizado: a transmissão das informações.
Para iniciar, talvez seja importante apontar uma diferença básica entre ensino e aprendizado. O aprendizado ocorre quando o sujeito “toma posse” de determinado conhecimento. Esse processo ocorre o tempo todo e é espontâneo – havendo a interferência de outro sujeito ou não. Já o ensino ocorre quando um sujeito age conscientemente e intencionalmente como mediador de certo conhecimento, repassando essa informação para outrem. Portanto, chegamos a duas conclusões:

  1. Pode haver aprendizagem sem ensino, mas não pode haver ensino sem aprendizagem;
  2. O ensino depende, necessariamente, da ação de um sujeito mediador do conhecimento.

Sendo que a aprendizagem pode ocorrer espontaneamente, sem a intervenção de um mediador, por que, então, ensinar? Porque o ensino potencializa o aprendizado. Quando se ensina da forma correta, o educando aprende mais, melhor e com mais rapidez.
Neste sentido, a forma como a informação será mediada/transmitida é muito importante, uma vez que irá determinar o nível de sucesso da aprendizagem.
A mesma informação pode ser transmitida de infinitas formas, utilizando diferentes dinâmicas e inúmeros instrumentos. Não irei, aqui, defender este ou aquele método; material “X” ou currículo “Y”... O que gostaria de defender é a necessidade de adequarmos os “meios” às peculiaridades e necessidades de cada criança.
Cada pessoa é um ser especial e único, com potenciais e deficiências diferentes. As peculiaridades de cada criança fazem com que certos meios de se transmitir as informações sejam mais ou menos eficientes – e isso deve ser observado por qualquer pai que pretenda instruir seus rebentos no próprio lar.
Para ilustrar o que estou tentando dizer, tomo como exemplo uma família que venho acompanhando há algum tempo, e que tem instruído seus dois filhos em casa. O mais velho (menino) possui uma mente lógica e sistemática, muito voltada ao intelectualismo. Já a mais nova (menina) é muito mais ativa fisicamente, e possui tendências muito mais criativas, musicais e artísticas. Ambos estão sedentos por aprender, mas cada um possui características totalmente diferentes do outro.
Não demorou muito para os pais se depararem com dificuldades para ensinar a filha da mesma forma que haviam ensinado o filho...
Os materiais, as dinâmicas, as estratégias que haviam funcionado com o menino, nem de longe eram eficientes para a menina. Diante desse quadro, como ensinar os mesmos conhecimentos? E comunicação teve que ser mudada. O conhecimento, as informações, os objetos de estudo continuavam os mesmos, mas a forma de mediá-los teve que ser drasticamente revista e modificada.
Qual foi a solução? Os pais selecionaram materiais didáticos diferentes, que trabalhavam mais com a criatividade, utilizavam mais desenhos, músicas didáticas, etc. Resultado: a menina adquiriu os mesmos conhecimentos e as mesmas habilidades/competências que o irmão, mas em um ritmo diferente e de uma forma diferente.
Sei que isso demanda muita pesquisa e esforço por parte dos pais, mas um cuidado essencial quando se pretende instruir os filhos é selecionar a forma mais adequada de transmitir as informações e exercitá-las, tendo por base as peculiaridades do sujeitinho.
Algumas crianças são mais ativas fisicamente, outras são mais criativas, outras são mais lógicas, outras são mais musicais, outras são mais visuais... Enfim, precisamos conhecer bem nossos filhos para saber qual será a forma mais eficiente de ensiná-los.
Há uma infinidade de métodos, currículos, materiais, atividades, etc., que podem ser selecionados e utilizados. Mas cabe a nós avaliar o que será mais produtivo para nossas crianças.
Volto a dizer que, de qualquer forma, a criança irá aprender. Mesmo que você não utilize o melhor material ou o melhor método, com certeza seu filho irá adquirir os conhecimentos e aptidões necessários (pelo menos os mais básicos). Entretanto, utilizar uma comunicação adequada irá, não somente acelerar o processo de ensino-aprendizagem, mas também irá qualificar ainda mais esse processo, bem como potencializar a expansão e aplicação desses conhecimentos/habilidades na própria vida da criança.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Rotina/Constância

Um outro elemento de suma importância para qualquer processo educativo é a rotina. Para não cair no mesmo erro do artigo sobre planejamento, quero deixar claro desde já que não me refiro à mera repetição diária de tarefas pré-estabelecidas – conceito este que pode surgir em um primeiro momento ao se pensar no sentido de “rotina”. E foi justamente para não passar essa noção errônea que incluí no título deste artigo “constância” como sentido correlato de “rotina”.
Talvez muitos defensores de uma educação mais livre estejam incomodados com esse tema, considerando ser a rotina uma forma de “engessar” o desenvolvimento natural das crianças. Porém, peço que continuem lendo com a mente aberta, pois verão que a rotina/constância tem tudo a ver com uma aprendizagem natural...
Se é assim, onde podemos ver a rotina/constância na natureza? Ela está presente no processo de aprendizagem de inúmeros seres vivos... Por exemplo: várias espécies de aves, sistematicamente, lançam seus filhotes do ninho em queda livre para que aprendam a voar. A pequena ave nunca consegue voar na primeira tentativa, mas seus pais repetem esse processo inúmeras vezes, até que seu rebento alce o primeiro voo. A rotina, a constância e, por que não dizer, a repetição do exercício fazem com que os músculos e o cérebro dos passarinhos sejam exercitados e vão se preparando para a execução do ato primário e para o desenvolvimento da habilidade/competência relacionada a ele.
A mesma estratégia de utilizar a rotina/constância é verificada em predadores que utilizam “brincadeiras” para ensinar seus filhotes a caçar e em presas que criam oportunidades para desenvolver em suas crias a habilidade de fugir, se esconder ou se defender de alguma forma. Na verdade, em praticamente todo o reino animal vemos os pais utilizando a rotina, a constância e a repetição para desenvolver habilidades, competências e capacidades em seus filhotes.
Com isso não estou querendo minimizar o ser humano, nos reduzindo a animais... Longe disso! Mas considerei pertinente utilizar o reino animal como analogia para demonstrar como a rotina/constância não torna o processo de ensino-aprendizagem não-natural, mas que faz sim parte do desenvolvimento de qualquer ser.
Quanto a isso, cabe ressaltar que a rotina/constância é essencial, principalmente, para fortalecer as ligações neurais. O que isso significa? Vejamos...
Em termos biológicos, a aprendizagem ocorre quando os neurônios de um sujeito criam ligações entre si. Essas novas ligações trazem, consigo, o desenvolvimento de novas habilidades e competências para o ser. Assim, uma criança aprende na medida em que, pelas experiência que vai tendo, seus neurônios vão criando mais ligações entre si.
A rotina/constância cria novas ligações? Não necessariamente... Porém, sua função fundamental é fortalecer as ligações existentes. Explico: ao passar por uma experiência nova, realizar um trabalho diferente ou receber estímulos específicos, o sujeitinho, imediatamente, começa a criar ligações neurais. Isso é automático. Porém, essas ligações nunca são formadas de maneira 100% corretas na primeira vez – por isso uma criança nunca aprender algo por completo “de primeira”. Na medida em que o mesmo ensinamento (de qualquer ordem) é repetido em outro momento, de outra forma, por outro sujeito, etc., as partes “certas” das ligações criadas inicialmente vão se fortalecendo, enquanto as partes “erradas” vão se enfraquecendo. Logo, a rotina/constância faz com que o desenvolvimento de ligações produtivas (aprendizagem) seja mais eficiente e que a força dessas ligações seja suficiente para que o aprendizado seja bem fixado e duradouro.
Diante disso, não há como negar: a rotina/constância é sim natural e necessária para qualquer processo educativo.
Mas, como isso se materializa na prática?
Em primeiro lugar, o fato de haver um momento de estudos todos os dias já se constituiu um grande salto para o desenvolvimento da criança. Pode parecer algo superficial ou banal, mas o simples fato de inserir no cotidiano da criança um momento específico para o aprendizado intencional gera resultados surpreendentes.
E se não houver esse momento? Se o ensino for mais “livre” e ocorrer em qualquer momento do dia? A criança deixará de aprender? DE FORMA ALGUMA! Estar inserida em um ambiente com conhecimento já é o suficiente para que uma criança aprenda. Na verdade, o sujeitinho está aprendendo o tempo todo – sabendo disso ou não...
Independente do que fizermos, a criança irá aprender. Porém, ao guiar os pequeninos a dedicar um tempo específico todos os dias (ou, pelo menos, em alguns dias determinados) para o estudo, estamos auxiliando no desenvolvimento da habilidade de compreender e separar momentos distintos (juntamente com as atividades e comportamentos específicos esperados para cada um desses momentos).
É indispensável que um sujeito tenha a competência de saber agir com uma conduta adequada em diferentes momentos (no trabalho, na família, na igreja, em festas, etc.) sem perder sua identidade. E, ao inserir diferentes momentos no dia-a-dia da criança (momento de brincar, de comer, de estudar, de realizar higiene, etc.) estamos auxiliando no desenvolvimento dessa habilidade.
Em segundo lugar, rotina/constância é algo essencial para ajudar no desenvolvimento da responsabilidade e do senso de dever da criança. Por exemplo: sabendo que deverá dedicar três horas do seu dia para o estudo, o sujeitinho terá que se organizar para cumprir essa meta de forma satisfatória. Não podemos negar que, durante a vida, todos precisamos lidar com pressão, com metas, com horários, etc., e inserir isso desde cedo para a criança, através de uma forma agradável e leve (mediante a rotina de estudos), irá potencializar muito o desenvolvimento dessas competências.
Enfim, faltaria tempo e espaço para falar sobre inúmeros outros benefícios da rotina/constância, como seu efeito calmante nas crianças, ou a potencialização da absorção de conteúdos que ela proporciona... Mas, para encerrar este artigo, gostaria de ressaltar que a rotina/constância, apesar de necessária, não precisa ser algo tão rígido que exclui qualquer possibilidade de mudança...
De fato, podemos materializar a rotina/constância de formas muito variadas e criativas:

  • Podemos determinar um horário específico para o ensino (ex: das 8h às 11h);
  • Podemos determinar uma carga-horária para ser cumprida, independentemente do horário (ex: três horas de estudo por dia, em qualquer horário);
  • Podemos determinar um horário de início do período de ensino, com fim indeterminado, dependendo da conclusão de tarefas específicas (ex: o momento de ensino começa às 8h e vai até a criança terminar cinco páginas do livro de estudo + uma tarefa especial).

Enfim... há infinitas formas de se organizar a rotina. O importante é que fique claro para a criança qual será seu dia-a-dia com relação ao estudo.
É claro que, durante todo o dia, o conhecimento e o ensino devem estar ao redor da criança. De forma alguma o aprendizado deve estar restrito ao momento de estudo intencional!!! Não é isso que estou propondo! O momento de estudo é importante, a rotina/constância é importante, mas o aprendizado não pode ficar limitado a esse momento.
Devemos criar um ambiente no qual o sujeitinho estará imerso constantemente no conhecimento. E, nesse ambiente, o momento de estudo intencional será um período fixo em que o aprendizado será mais concentrado e sistematizado, potencializando o processo educacional e desenvolvendo diversas competências necessárias para o sujeito.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Esclarecimento sobre Planejamento

Após a postagem da semana passada, relativa à importância do planejamento, troquei algumas mensagens com pessoas interessadas em educação domiciliar... Essas mensagens me fizeram perceber que fui infeliz em algumas colocações e que posso ter expressado mal alguns pontos. Por isso, considerei importante esclarecer o que possa ter ficar duvidoso no artigo anterior.
Em primeiro lugar, preciso deixar claro que, ao afirmar que “o momento educativo mais importante (pelo menos, ao meu ver) e que irá, efetivamente, garantir uma maior probabilidade de sucesso é o planejamento”, não estou dizendo que o planejamento é mais importante do que o afeto, o carinho, o respeito ou qualquer outro elemento sócio-afetivo relacionado à educação. De forma alguma! Para mim, o planejamento é o “momento educativo mais importante”. Explico: no tocante à prática educativa intencional, ao analisarmos as fases do processo, percebemos que há vários momentos educativos. Esses momentos são divididos, basicamente, em: planejamento, execução e avaliação. Desses 3, o planejamento é, sem dúvida, o mais importante.
E onde entra o amor, o cuidado, o contato familiar, o afeto, etc? Esses são elementos indispensáveis, mas que não são, em si, “momentos”. Ao contrário: esses elementos permeiam todos os momentos educativos, sendo o combustível, o lubrificante e o resultado de todo o processo. Neste sentido, com certeza são elementos mais importantes do que o planejamento – afinal, são eles que determinarão as escolhas feitas durante o planejamento.
Um segundo ponto que preciso esclarecer é o próprio conceito de planejamento que utilizei em minha postagem. Isso se faz necessário porque, ao se falar em planejamento, podemos cair no erro de confundir isso com o tão conhecido “planejamento escolar”. E, deveras, não é a isso que me refiro.
Considero planejamento o traçado de caminho a ser seguido. Isso não precisa estar em papel necessariamente, nem seguir uma formatação acadêmica, específica e rígida. Você planeja quando determina onde quer chegar e como chegará lá.
Creio que, para deixar explícito a que me refiro, cabe delinear a seguinte descrição: planejamento é um “momento de escolhas”, nada mais e nada menos do que isso.
Utilizarei um exemplo que se mostrou bastante propício em minhas conversas sobre o assunto...
Se você é pai de uma criança que está aprendendo a andar, poderá por optar por utilizar ou não um instrumento de “auxílio” para seu filho: o andador. Alguns consideram esse elemento uma ajuda, enquanto outros acreditam que ele mais atrapalha do que auxilia no desenvolvimento natural da habilidade de ficar em pé e caminhar. Logo, você terá que analisar a situação, avaliar os prós e os contras e decidir se utilizará ou não o andador. Isso é planejamento: você está decidindo/planejando se utilizará o andador ou não.
Só para esclarecer, podemos dizer que a criança usar o andador durante os dias é a execução, enquanto a avaliação é o momento em que você vê os resultados e analisa se foram satisfatórios ou não de acordo com a expectativa que se criou.
Estamos constantemente planejando, todos os dias – mesmo que não nos demos conta disso. Planejamos por que caminho iremos ao trabalho para chegarmos mais rápido, planejamos como cortar gastos, planejamos viagens de férias, etc. O planejamento é uma atividade essencialmente humana. Planejar é natural.
Se você decidiu ensinar seus filhos em casa e não mandá-los para a escola, isso é planejamento. Você analisou a situação, considerou as opções, os prós e os contras, e fez uma decisão. Essa decisão é seu planejamento (repito: planejamento é o momento das decisões).
Neste sentido, volto a afirmar: o planejamento é o momento mais importante. Por quê? Porque é nele que decidimos o que será feito. Alguns decidem utilizar um currículo ou material específico para seus filhos que serão ensinados em casa, enquanto outros preferem selecionar ou criar o próprio currículo e os próprios materiais a serem utilizados, outros, ainda, optam por deixar o processo de aprendizagem ocorrer de forma mais livre... Não estou aqui para defender um dessas opções específicas, mas para defender que a decisão dos pais seja feita de forma consciente, considerando-se cuidadosamente a situação familiar, os objetivos da mesma e a opção que melhor irá corresponder a isso.
Se “planejar” evoca uma imagem negativa, não precisamos utilizar essa expressão. Mas é um fato inquestionável que se faz necessário a cada família analisar seus desejos e necessidades e fazer uma escolha quanto à forma de educar suas crianças. O “momento de decisão” é o mais importante, pois nele cada um irá determinar como irá proceder para alcançar o sonho que sonhou para suas crianças. Os caminhos a serem seguidos irão depender dos objetivos de cada um, mas a qualidade das decisões tomadas e a convicção de manter-se firme a elas é o que determinará por quais caminhos seguir e se haverá sucesso ao final da caminhada.
Decidir é preciso. Por isso, planejar é preciso.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Planejamento

É fato que, tanto na educação escolar quanto na domiciliar, o que mais preocupa os educadores enquanto momento educativo é a execução, ou seja, a aula em si. Esse momento, no qual educador e educando estão cara-a-cara e deve-se, de alguma forma, utilizar dinâmicas e técnicas para transmitir e fixar os conteúdos e desenvolver as habilidades/competências parece ser o que mais consome a mente e os sentimentos de quem pretende ensinar. Porém, definitivamente, a execução não é o momento mais crítico do processo de ensino-aprendizagem.
Com efeito, o momento educativo mais importante (pelo menos, ao meu ver) e que irá, efetivamente, garantir uma maior probabilidade de sucesso é o planejamento.
O planejamento é o momento em que se respondem perguntas tais como:

  • Quais são meus objetivos?
  • O que vou ensinar?
  • Como vou ensinar?
  • Que meios utilizarei?
  • Onde ser dará o processo?
  • Quanto tempo irei dedicar a esse aspecto?
  • Como iremos avalizar o processo?
  • Etc.

Como é possível perceber, um planejamento bem-feito é capaz de extinguir qualquer dúvida ou insegurança sobre o momento de execução. Afinal, o planejamento constitui-se como um “mapa” a se seguido, um caminho a ser traçado. E, neste sentido, o “andar pelo caminho traçado” constitui-se, justamente, a execução – o momento “cara-a-cara”.
Muitos processos educativos fracassam simplesmente por ocorrerem a “golpes de facão”, ou seja, totalmente no improviso, sem um planejamento consistente. Muitos educadores acreditam que podem chegar diante do educando e fazer “qualquer coisa” para o ensinar e que, assim, o processo educativo irá progredir. Uma pessoa que pensa/age assim deve ser, com certeza, ou ingênua ou relapsa.
Obviamente uma criança irá aprender mesmo que o processo educativo seja improvisado. Porém, a qualidade desse aprendizado será ínfima se comparada com o potencial educativo de um processo bem planejado.
No caso da educação domiciliar, por sua própria natureza, o planejamento se torna ainda mais importante. Afinal, o locus do processo educativo é, também, o cenário de inúmeras outras atividades e processos do cotidiano familiar, e o impacto de um ensino doméstico irá exigir cuidados redobrados com a rotina, com os recursos, espaços e atividades de toda a família. Se o trabalho de se ensinar as crianças em casa não for bem pensado e planejado, poderá ocasionar problemas seríssimos para toda a estrutura familiar.
O planejamento é importante, não somente para a organização macro do processo domiciliar de educação (local, horários, materiais), mas também para a micro. Ou seja, antes de se iniciar uma aula, faz-se necessário que o professor-mestre pare para planejar como será essa aula. Como já falamos, isso lhe dará maior segurança e potencializará grandemente o momento de estudo.
Neste sentido, cabe ressaltar que os elementos principais de um planejamento de aula são:

  • Tema;
  • Objetivo geral;
  • Dinâmica;
  • Objetivos específicos;
  • Técnicas;Instrumentos.

Obviamente, um planejamento, por mais bem feito que seja, nunca será 100% à prova de falhas. É impossível prever todas as variantes de uma aula ou imprevistos que podem ocorrer. Por isso, deve-se sim estar preparado para adaptar o planejamento e exercitar o improviso. Isso é essencial. Entretanto, o improviso deve ser uma ferramente, e não um determinante do processo. O planejamento consciente e bem delineado deve ser a regra, enquanto o improviso deve ser, meramente, a exceção.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Introdução aos Cuidados com a Ed. Domiciliar

Talvez muitos estranhem o que vou dizer agora, mas creio que no decorrer deste artigo tudo ficará claro...
O fato é que não devemos cair no fanatismo de pensar que a educação domiciliar em si seja garantia de resultados positivos para a educação de uma criança.
Por que digo isso? Porque muitas vezes, em nosso ânimo e anseio por defender o homeschooling, caímos no erro de vermos ele como uma utopia educacional. Nessa utopia, fantasiamos que, pelo simples fato de ensinarmos nossos filhos em casa, o sucesso educacional dos mesmos está garantido.
Sei que isso ocorre, na maior parte dos casos, de forma inconsciente, mas é comum ouvirmos o seguinte discurso: “O sistema escolar é inadequado para as crianças, e causa mais problemas do que resolve. Por isso precisamos ter o direito de ensinar nossos filhos em casa, para dar uma educação de qualidade a eles”. Parece correto, não parece? E superficialmente está, mas quando analisamos essa fala mais a fundo podemos identificar um grande engano: considerar que a educação domiciliar por si só naturalmente irá garantir uma educação de qualidade. Com efeito, isso não é verdade!
Assim como qualquer outro processo, a educação domiciliar só terá resultados positivos caso sejam observados vários cuidados básicos. Por mais raras que sejam estas palavras vindas de um defensor do ensino doméstico, não posso deixar de afirmar: caso os aplicadores do homeschooling não sejam criteriosos durante o planejamento e a efetivação da instrução, esse processo educativo estará fadado ao mais retumbante dos fracassos.
Inclusive, tenho que ir além... Como pesquisador educacional é minha responsabilidade alertar aos pais de que, caso a educação domiciliar seja aplicada de forma inadequada ou desregrada, pode ocasionar déficits, deficiências e problemas muito maiores do que aqueles resultantes de um processo escolar precário.
Espero que todos sintam em minhas palavras, não um tom de crítica, mas de alerta. Afinal, o objetivo da nossa próxima série de artigos será, justamente, mostrar quais são alguns dos cuidados fundamentais que devem ser tomados quando se inicia um trabalho de ensino em casa.
Agora, em contra-partida, não posso deixar de afirmar que um trabalho consistente de homeschooling qualifica as possibilidades educacionais de uma forma extraordinária. Não canso de me surpreender com os progressos incríveis dos homeschoolers que acompanho. A naturalidade e rapidez com que os conhecimentos são assimilados e as habilidades são desenvolvidas são impressionantes.
Enfim, podemos considerar a Educação Domiciliar, enquanto processo, como uma faca de dois gumes – ela pode trazer resultados muito bons ou muito ruins, dependendo da forma como o trabalho é desenvolvido.
Por isso, mais uma vez afirmo: há cuidados essenciais que não podemos ignorar quando pretendemos ensinar nossos filhos em casa, e vamos ver alguns deles nas próximas semanas.
Para dar uma ideia do que estou falando (e para despertar a curiosidade), abaixo listo alguns dos cuidados que iremos trabalhar:

  • Planejamento;
  • Rotina;
  • Espaço físico e materiais adequados;
  • Comunicação;
  • Transmissão de informações;
  • Desenvolvimento global; Socialização.

É claro que iremos trabalhar outras questões, porém os assuntos supracitados já podem dar uma ideia do que vem por aí. Neste sentido, também peço que todos participem dando sugestões de assuntos ou cuidados sobre os quais gostariam de ler em nossas postagens.
Por fim, ressalto mais uma vez que o objetivo deste texto não foi colocar em dúvida as potencialidades da Educação Domiciliar, mas sim nos fazer pensar em nosso discurso e em nossas práticas para que não sejamos ingênuos acreditando que nossos filhos estarão salvos do fracasso educativo só por estarem sendo ensinados debaixo do próprio teto.
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