terça-feira, 17 de abril de 2012

Os Pais podem ser Professores? (parte 2)

Como ficou extremamente claro pela detalhada pesquisa de Wadaapresentada anteriormente – , não evidências práticas de que a formação acadêmica apresente correlação direta com a qualidade do professor (caso você não tenha lido a primeira parte do artigo, clique aqui).
Com isso não estou querendo afirmar que a formação superior não possua valorlembre-se: quem está escrevendo este texto é, justamente, graduado em Pedagogia. Uma pessoa formada pode sim ser um bom professor, mas o que estamos afirmando é que o diploma em si não garante a qualidade do profissionale isso não se aplica somente à educação, mas a todas as áreas de atuação profissional.
Havendo clareza sobre essa questão, não a abordarei novamente para não ser redundante. Dessa forma, nesta segunda parte do texto procurarei me ater a um outro aspecto da discussão: o que faz dos pais bons professores?
Afinal, se não são os diplomas e cursos acadêmicos que garantem as habilidades necessárias para o desenvolvimento adequado do processo de ensino-aprendizagem, o que, então, pode garantir isso?
Bom... esse daria um ótimo tema para dezenas de pesquisas, monografias, dissertações, teses e livros, e poderia gerar um aprofundamento gigantesco com relação às habilidades mais elementares relacionadas a ensinar e aprender. Porém, hoje, não pretendo realizar uma revolução epistemológica... Apenas gostaria de gerar algumas reflexões sobre a relação pais-educadores/filhos-educandos.
Então, por que você crê que pais são bons professores?
Em primeiro lugar porque ensinaré um processo inerente à própria condição de pai/mãe. Sabendo ou não, querendo ou não, gostando ou não... se você é pai/mãe, você irá ensinarou melhor, está ensinando.
Para muitos, essa é uma verdade que passa despercebida, mas que, mesmo assim, não deixa de ser um fato da natureza: pais são pais porque, dentre outras coisas, ensinam seus filhos.
Mesmo aqueles que não são adeptos da educação domiciliar, ainda que não percebam, ensinam seus filhos em diversas áreas e em diversos níveis. Desde a adequação da rotina do bebê aos horários para comer, dormir e se higienizar até o complexo processo de aquisição da fala, quem está ensinando a criança são os pais.
De fato, aocriarseus rebentos, os progenitores estão constantemente analisando a situação, avaliando as necessidades da criança e buscando estratégias para facilitar o aprendizado e o desenvolvimento da mesma. Ora, se isso não é a síntese do processo de ensino-aprendizagem, então não sei o que é...
Com efeito, pais não podem ser professores.... ELES, EFETIVAMENTE, SÃO PROFESSORES!
Volto a dizer: ensinar é uma habilidade inerente à própria condição de pai/mãe.
E digo mais: a habilidade natural dos pais de ensinar possui uma qualidade superior à habilidade de ensinar dos profissionais de educação, justamente, por ser natural. Ela não é forjada em um ambiente artificial edescoladoda realidade educacional, mas vai sendo moldada conforme o processo educativo vai ocorrendo.
ISSO É EXCEPCIONAL!
Pare por um momento para analisar isso: os pais não estudam durante vários anos para se preparar de forma aleatória para enfrentar situações educacionais adversas, mas vão sendo formados como educadores enquanto enfrentam o próprio processo educacional; eles não estudam diversas teorias para aprender como, talvez, ensinar, mas aprendem a ensinar ensinando!
Não sei se estou conseguindo transmitir de forma clara o quanto essa realidade é importante, mas posso afirmar com certeza: quando começarmos a entender um pouco dessa verdade; quando tivermos um pequeno vislumbre do quanto estamos errados quanto ao processo educativo; quando aficha” começar acairsobre o fato de que o melhor educador é aquele que se educa a educar enquanto está educando, então nossos olhos começarão a se abrir para o que realmente é o aprendizado. Quando nossas mentes e nossos corações começarem a se abrir para isso, teremos uma revolução epistemológica – não na academia, mas em nossas próprias vidas; não na sala de aula ou nas universidades, mas em nossas cozinhas e salas de estar!
Bem... deixando esse momento de exaltação filosófica, voltemos aos motivos que me levam a crer que os pais são bons educadores...
Uma outra realidade que podemos considerar ao pensar nos pais enquanto professores está relacionada ao fato de que os pais, mais do que qualquer outra pessoa, conhecem seus filhos.
Eu sei que há muita gente que irá descordar. Muitos levantarão a bandeira de que boa parte dos pais, simplesmente, desconhece elementos importantíssimos do “universo” de suas crianças. Em alguns casos isso é verdade, mas, na maioria deles, isso é, meramente, uma interpretação equivocada da realidade.
Como assim?
Não vou gastar muito tempo com isso, afinal, não é o objetivo deste artigo... Mas, somente para fazê-los pensar, gostaria de dizer que, em geral, quando uma criança ou adolescente se “abre” com algum adulto ou jovem sobre coisas que não falaria para seus pais, há uma tendência natural desse adulto/jovem julgar que esses pais não conhecem o filho que tem e que ele mesmo conhece melhor essa criança/adolescente do que os progenitores. Com efeito, além de uma falácia óbvia, essa é uma interpretação baseada muito mais no desejo soberbo de ser “mais que os pais” do que em uma análise correta da realidade (espero não estar ofendendo ninguém).
Saber que o adolescente tem o desejo de ser artista ao invés de advogado (como seus pais querem) ou que ele já beijou uma menina não me faz saber mais desse jovem do que seus pais. Afinal, eles estão com esse sujeito desde seu nascimento! Eles sabem como ele chora quando se machuca, sabem como reage quando está doente, sabem o que ele gosta de comer, que tipo de filme lhe dá pesadelos, quais são seus brinquedos favoritos... Com que direito eu posso afirmar que sei mais sobre essa pessoa do que seus próprios pais?
Posso sim conhecer detalhes de sua vida ou de sua personalidade que seus pais não conhecem, mas isso não quer dizer que sei mais do que eles...
Agora, voltando à nossa discussão... Esse conhecimento amplo que os pais têm de seus filhos – mesmo sem se dar conta disso – faz com que sejam os melhores professores para eles, uma vez que lhes permite adaptar o processo educativo às necessidades, anseios e potencialidades do educando.
Melhor do que qualquer profissional, um pai ou uma mãe pode analisar seu filho para saber se está tendo uma certa dificuldade por conta de limitação intelectual, estres, problema de saúde, abalo emocional ou qualquer outra adversidade. Da mesma forma, esse profundo conhecimento sobre o educando possibilita uma busca mais eficaz de alguma solução para a limitação apresentada.
Se conhecer o aluno é determinante para que um educador dirija uma processo educativo eficiente – e, de fato, é – , os pais estão no topo da lista como as pessoas mais aptas a serem os professores de seus filhos.
Finalizando, afirmo que pais são bons professores por causa da afetividade. Salvo em algumas situações aberrantes, os pais amam seus filhos. E, em especial na educação domiciliar, percebemos o quanto esse amor é expresso de forma consistente no sacrifício realizado pelos progenitores ao abdicar de muitas coisas para investir tempo e recursos na instrução de seus próprios filhos.
Quando pais ensinam os filhos em casa, a preocupação com o aprendizado dos educandos não está baseada meramente em uma relação passageira e de caráter empregatício, mas em um relacionamento constante e vitalício, fundamentado em laços afetivos muito apertados.
Pais não ensinam seus filhos porque estão recebendo salário para isso, nem porque vão ganhar algo em troca por realizar essa atividade. Na verdade, em termos materiais, quem ensina em casa perde muito mais do que ganha. Pais que ensinam em casa o fazem por amor aos seus filhos, por se preocuparem com eles, por desejarem uma educação do mais alto nível para seus rebentos.
Neste sentido, podemos afirmar que pais-educadores não irão tratar com descaso os problemas de aprendizado de seus filhos... É ridículo imaginar que quem ensina em casa vai “passar” seu filho por dó ou excesso de zelo, mesmo não havendo aprendizado. Pode-se-ia esperar isso de uma relação na qual o interesse do mestre é meramente comercial ou de troca de favores, mas não de um processo no qual o interesse de ambas as partes é o mútuo desenvolvimento e no qual o elemento que mantém todo o trabalho coeso é o amor e a afetividade.
Ao identificar a existência de um problema educacional, qualquer pai-educador irá se dedicar ao máximo para compreender o que está levando seu filho a não aprender ou aprender parcialmente. Da mesma forma, irá em busca da melhor solução possível para resolver esse entrave.
Talvez o necessário para ajudar o filho seja uma mudança de estratégia, adequação do material, revisão da rotina, intensificação dos estudos, afrouxamento da carga horária... Mas, seja o que for, os pais farão, não para engrossar as estatísticas educacionais, mas para garantir o pleno desenvolvimento de seus filhos.
Eles fazem isso porque são pagos para fazer? Não... Fazem isso por amor!
Ora, que outras qualidades poderíamos esperar de um bom professor do que essas: habilidade natural para ensinar, conhecimento do aluno e de seu contexto e comprometimento efetivo com o aprendizado e o desenvolvimento do educando?
Diante de tudo isso, não me resta nada além de afirmar: os pais, não somente podem ser professores como, efetivamente, são os melhores professores.
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